quarta-feira, junho 11, 2008

Condenação - Parte Final

E entre tantos sofrimentos e castigos, Christopher foi pouco à pouco se apagando. Do amor pouco lhe restava, à não ser uma lembrança longínqua de uma fragrância que jamais sentiria novamente, mas que lhe assaltava os sonhos. Hora estava no mundo real, preso entre cadeias de homens comuns, hora estava em um mundo de trevas sombrio, aprendendo sobre a vida e a morte, sobre o início e sobre o fim, sobre Deus e sobre o Diabo. Já não tinha mais nome e nem identidade, era apenas o que tinha que ser, um ouvinte, um discípulo de forças que já não mais compreendia. Não tinha mais pai ou mãe, não tinha mais amigos ou inimigos. Nada tinha à não ser o vazio dentro de si, que por si só já o preenchia de tal forma que não havia mais espaço para nada. Era uma sombra triste e desamparada. Com o tempo os castigos se acabaram. Já não mais vagava entre dois mundos. Passava todos seu tempo em um pequeno quarto mal iluminado, acompanhado de livros que não conseguia ler. Mesmo sua mente, antes tão prodigiosa e cheia de imaginação, já não conseguia mais deixar aquele quarto imundo e esquecido. Era seu fim...
- Por que se abates, minha criança? – disse o ancião, entrando sem bater. – Desistiu de tudo?
Christopher apenas olhou para o velho, um olhar letárgico e sem a menor expressão. Seus olhos pareciam globos vazios e sem vida.
- Os castigos foram terríveis, não é? – o ancião sorriu maliciosamente. – Nenhum mortal, por mais forte que fosse poderia superá-los.
Christopher deu de ombros e continuou ali parado.
- Ainda lhe resta um castigo, jovem tolo – o ancião se aproximou. – Este será seu último castigo. Depois estará livre, e voltará para o mundo dos homens, que é seu lugar.
- Tanto faz – disse Christopher, sua voz monótona e quase inaudível.
- Veremos se tanto faz – o ancião virou-se e caminhou até a porta.
Abriu-a lentamente.
- Entre, Jouliette, tem alguém aqui que gostaria de vê-la – disse enquanto dava passagem para a bela moça entrar.
O coração de Christopher disparou no mesmo instante. Toda a lembrança passada voltou a sua mente e imagens rápidas e desconexas bombardearam sua fragilizada memória.
- Não – Christopher gritou e levantou-se de sobressalto. Antes que qualquer um pudesse reagir, ele correu na direção da jovem e a abraçou. As lágrimas escorriam sem cessar. Christopher estava em desespero.
- Meu amor – sussurrou. – Eu me lembro.
No mesmo instante que disse isso, o rosto da jovem se transfigurou, revelando uma outra mulher, bela, mas com certeza não era a mesma que ele vira antes.
- O que é isso? – Christopher soltou a no mesmo instante. – O que fez com Jouliette?
O ancião gargalhou.
- Este será seu último castigo, jovem Christopher. – disse ainda rindo, sua voz soava como trovões aos ouvidos de Christopher. – Trocastes meu maior presente, pelo coração de uma mortal. Podias ter sido um rei entre os mortais, mas preferiu ser vassalo de uma donzela.
Christopher não agüentava olhar para o ancião e antes que percebesse já estava de joelhos, o rosto rente ao chão.
- Por ter cometido tão grave erro – disse o ancião. – Te condenarei a ficar para sempre preso à este tolo amor. Jamais será capaz de amar outra pessoa. De vez em quando, mulheres cruzarão seu caminho e lhe darão a impressão de ter reencontrado sua Jouliette. Mas toda vez que se aproximar o suficiente para abrir seu coração, a verdade será revelada, e verá que não passa de mais uma ilusão.
- Por que? – murmurou Christopher. – Por que me castigas desta forma?
- Nesta vida não saberá – respondeu seriamente o ancião. – Viverá mais duas vidas mortais, até que a verdade seja revelada e possa novamente ser livre.
Então Christopher levantou-se e encarou o ancião.
- De todos os castigos que tive até agora, este será o mais difícil de suportar – disse quase que friamente. – Mas não o temo da mesma forma que não temo você.
- Pode ser que não tema agora, jovem tolo – disse o ancião sorrindo. – Mas temerá.
Uma densa neblina envolveu o quarto. Quando a neblina dissipou-se, Christopher estava sozinho de novo. Procurou pelas paredes à sua volta, mas já não havia mais nenhuma. Pouco a pouco, o cansaço tomou conta de seu corpo, e sem conseguir mais se conter, deitou ali mesmo, onde rapidamente pegou no sono.
Não era um sono comum, mas o momento do último castigo se concretizar, e naquele momento, Christopher retornou finalmente para o mundo dos homens.