Condenação - Parte Final

- Por que se abates, minha criança? – disse o ancião, entrando sem bater. – Desistiu de tudo?
Christopher apenas olhou para o velho, um olhar letárgico e sem a menor expressão. Seus olhos pareciam globos vazios e sem vida.
- Os castigos foram terríveis, não é? – o ancião sorriu maliciosamente. – Nenhum mortal, por mais forte que fosse poderia superá-los.
Christopher deu de ombros e continuou ali parado.
- Ainda lhe resta um castigo, jovem tolo – o ancião se aproximou. – Este será seu último castigo. Depois estará livre, e voltará para o mundo dos homens, que é seu lugar.
- Tanto faz – disse Christopher, sua voz monótona e quase inaudível.
- Veremos se tanto faz – o ancião virou-se e caminhou até a porta.
Abriu-a lentamente.
- Entre, Jouliette, tem alguém aqui que gostaria de vê-la – disse enquanto dava passagem para a bela moça entrar.
O coração de Christopher disparou no mesmo instante. Toda a lembrança passada voltou a sua mente e imagens rápidas e desconexas bombardearam sua fragilizada memória.
- Não – Christopher gritou e levantou-se de sobressalto. Antes que qualquer um pudesse reagir, ele correu na direção da jovem e a abraçou. As lágrimas escorriam sem cessar. Christopher estava em desespero.
- Meu amor – sussurrou. – Eu me lembro.
No mesmo instante que disse isso, o rosto da jovem se transfigurou, revelando uma outra mulher, bela, mas com certeza não era a mesma que ele vira antes.
- O que é isso? – Christopher soltou a no mesmo instante. – O que fez com Jouliette?
O ancião gargalhou.
- Este será seu último castigo, jovem Christopher. – disse ainda rindo, sua voz soava como trovões aos ouvidos de Christopher. – Trocastes meu maior presente, pelo coração de uma mortal. Podias ter sido um rei entre os mortais, mas preferiu ser vassalo de uma donzela.
Christopher não agüentava olhar para o ancião e antes que percebesse já estava de joelhos, o rosto rente ao chão.
- Por ter cometido tão grave erro – disse o ancião. – Te condenarei a ficar para sempre preso à este tolo amor. Jamais será capaz de amar outra pessoa. De vez em quando, mulheres cruzarão seu caminho e lhe darão a impressão de ter reencontrado sua Jouliette. Mas toda vez que se aproximar o suficiente para abrir seu coração, a verdade será revelada, e verá que não passa de mais uma ilusão.
- Por que? – murmurou Christopher. – Por que me castigas desta forma?
- Nesta vida não saberá – respondeu seriamente o ancião. – Viverá mais duas vidas mortais, até que a verdade seja revelada e possa novamente ser livre.
Então Christopher levantou-se e encarou o ancião.
- De todos os castigos que tive até agora, este será o mais difícil de suportar – disse quase que friamente. – Mas não o temo da mesma forma que não temo você.
- Pode ser que não tema agora, jovem tolo – disse o ancião sorrindo. – Mas temerá.
Uma densa neblina envolveu o quarto. Quando a neblina dissipou-se, Christopher estava sozinho de novo. Procurou pelas paredes à sua volta, mas já não havia mais nenhuma. Pouco a pouco, o cansaço tomou conta de seu corpo, e sem conseguir mais se conter, deitou ali mesmo, onde rapidamente pegou no sono.
Não era um sono comum, mas o momento do último castigo se concretizar, e naquele momento, Christopher retornou finalmente para o mundo dos homens.
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