Condenação - Parte 4

Levantou-se. Vestia um robe de seda negro. Havia apenas uma porta no quarto. Quando deu o primeiro passo em direção à ela, a porta se abriu.
- Então já acordou – disse uma figura encapuzada entrando no quarto. – Teve bons sonhos? – sua voz saía naturalmente irônica.
Christopher lembrou-se vagamente da cela onde estava.
- Você deve estar se perguntando onde está, não é? – disse o encapuzado, sentando-se na cama. – Sua memória está confusa.
- Sim – respondeu Christopher. – Me lembro vagamente de uma prisão. De pessoas vestindo roupas estranhas. Foi um sonho?
O encapuzado gargalhou.
- Do que está rindo? – perguntou Christopher, já se irritando com o jeito debochado do encapuzado.
- De você, oras – respondeu o encapuzado. – Afinal do que mais eu riria aqui, senão de um tolo que trocou a imortalidade por um amor mortal?
Neste momento Christopher lembrou-se dela. Seu amor. Aquela que dava razão à sua existência. Aquela por quem ele desafiou seu senhor. Mas não conseguia lembra de seu rosto. Apenas lembrava-se de sua existência. Toda vez que tentava se focar no rosto, este estava apagado, coberto por uma nuvem negra e cinza.
- Não consigo me lembrar do rosto dela – suspirou. – Chego muito perto da lembrança, mas sou incapaz de visualizar o rosto dela.
- É uma pena – disse o encapuzado. – Mas com o tempo você entenderá. Venha. Vamos caminhar um pouco.
Logo os dois saíram do quarto. Christopher caminhava lado a lado do encapuzado. Sentia-se mal. Mas não conseguia evitar aquela sórdida companhia.
- Você ainda não me respondeu se aquilo foi um sonho – disse Christopher, enquanto contemplava os enormes pilares de pedra negra que sustentavam o teto daquela câmara por onde passavam.
- Se faz questão da resposta – disse ironicamente o encapuzado. – Posso lhe dizer que foi sim. Mas também não foi.
- Não entendo – Christopher estava confuso. – Como algo poder ser real e irreal ao mesmo tempo?
- A realidade não é algo fácil de se compreender – disse o encapuzado. – Venha por aqui.
Seguiram até uma passagem que levou à uma grande sacada.
Dali podiam contemplar a imensidão de um deserto de areias vermelhas que se estendia ao longe.
- Eu já estive aqui! – exclamou Christopher.
- Sim – respondeu o encapuzado. – Ali você está tendo seu segundo tormento.
- Como assim estou tendo? – perguntou Christopher. – Eu estou aqui.
- Olhe bem, minha criança – o encapuzado apontou para um local específico.
Ali Christopher viu um homem acorrentado. Ali ele viu as criaturas devoradoras que saiam da areia. Ali ele se lembrou que já passara por aquilo. Mas seu terror foi por completo quando fixou seu olhar no homem acorrentado. Era a si mesmo que via ali. Christopher gritou em desespero.
- Fica quieto, mané – um grito o despertou. – Tá sonhando com o que? Viu o bicho-papão?
Christopher abriu os olhos. Estava na cela, preso. Ao lado um homem olhava entre as grades.
- Caraio – disse olhando para Christopher. – Tu faz barulho a beça quando dorme.
- Foi um sonho? – Christopher colocou a mão na cabeça. – O que está acontecendo? Eu devo ter enlouquecido.
O homem deu de ombros e continuou olhando para fora.
- Sei que você não vai acreditar em mim – disse enquanto se levantava e caminhou na direção do homem. – Mas eu não sei por que eu fui preso.
O homem virou o rosto e o encarou.
- Como assim não sabe? Tu matou, tu roubou? – perguntou, desconfiado.
- Nada disso – respondeu Christopher. – Eu entrei em uma casa e tinha uma mulher morta no chão. Quando vi, vários soldados me agarraram e me trouxeram para cá.
- Também tu é muito azarado – disse o homem. – Foi roubar a casa de uma mulher morta.
- O pior é que não – disse Christopher. – Ouvi um grito e entrei pensando que ela estivesse precisando de ajuda.
- Hum! – o homem coçou o queixo. – Olha só. Eu conheço mentira de olho fechado. E tu não ta me parecendo um mentiroso. Se isso for mesmo verdade, tu é muito zicado mesmo.
- Zicado? – perguntou Christopher.
- Azarado, porra – disse o homem. – De que mundo você veio?
- Não sei – Christopher coçou a cabeça. – Não me lembro.
- Não sei por que, mas fui com a tua cara – disse o homem. – Vou te ajudar por aqui – o homem estendeu a mão – Pode me chamar de Rato.
Christopher estranhou aquele nome, mas nada disse, apenas estendeu a mão e apertou a mão do homem. – Meu nome é Christopher.
1 Comments:
Poxa...o que dizer do que vc escreve ?! Vc sempre me torna presa a suas letras e palavras, tudo faz sentindo mesmo quando esta longe disso kkkkkkkkkkkkk amo tua escrita.... termina logo essa saga que to ficando muito curiosa pra saber como termina !!!!!!!!
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