Redenção

O cheiro de flores a despertou de seu sono. “Nossa, há quanto tempo eu não tinha um sono tão tranqüilo”. Ela levantou-se. Seus pés pisaram em uma grama macia. Ela assustou-se. “Que lugar é esse?” Ao longe, algumas crianças brincavam descontraídas e suas risadas tomavam conta do lugar. Aquela alegria chamou sua atenção e antes que se desse conta já estava caminhando na direção daquela alegria.
Perto das crianças, um jovem descansava deitado na grama. Ela aproximou dele. “Que lugar é esse?”. Ele apenas sorriu e continuou deitado sem nada dizer. Ela sentou-se ao lado dele. “Eu queria saber por que eu estou aqui. Estava em um quarto e de repente me vi nesse lugar”. O jovem sentou-se na grama. Tocou levemente no ombro dela. “Você deixou aquele mundo para trás. Você agora é livre daquela condição que te prendia”. Ela assustou-se com aquelas palavras. Apesar de tudo, era uma pessoa simples e não conseguia compreender bem o que estava acontecendo. “O que quer dizer com ser livre?” Ele sorriu. “Você deixou seu corpo e toda sua dor para trás. Você está em um lugar melhor agora”. Ela olhou para os lados. Olhou para o jovem e depois para as crianças. “Eu não entendo. Eu morri?” O jovem sorriu. “Temo que eu tenho que dizer que sim. Para aquele mundo que você estava acostumada você morreu”. Ela levou sua mão ao peito, mas ele não mais estava doendo. Conforme ela ia entendendo sua nova condição, algo ia mudando nela. Aos poucos sua memória foi voltando. Sua vida naquele “mundo” foi voltando à sua memória. Seus atos. Suas dores. Seus sofrimentos. Suas alegrias. As lágrimas começaram a correr de seu rosto espontaneamente. “Este lugar é o Paraíso?” O jovem levantou-se e olhou a sua volta. “Para mim isso é um paraíso. Isso eu devo concordar.” Ela levantou-se também. Seu rosto ainda estava molhado com as lágrimas. “Este não é meu lugar. Eu não mereço estar aqui. Fiz tantas coisas da qual não me orgulho. Este não é meu lugar”. O jovem tocou seu ombro. “Minha criança, você foi apenas uma pessoa como qualquer outra. Fruto de seu meio. Viveu na pobreza. Perdeu mais do que ganhou. Sofreu mais do que deveria. Por que aqui não haveria de ser seu lugar?” Ela encarou aqueles olhos que brilhavam intensamente. “Mas eu fiz pessoas sofrerem. Cheguei até a enganar e roubar. Minhas mãos estão sujas.” O jovem sorriu “Você era uma criança em meio aos lobos, e apesar de todo o seu sofrimento, havia espaço em seu coração para ajudar. As pessoas só lembram de atos ruins, e quase nunca percebem os bons atos. Sua dor e seu sofrimento ficaram para trás. Este é o seu lugar. Para as almas simples que como a sua depois de uma vida de tormentos e sofrimentos merecem a redenção.”
Ela olhou para frente onde as crianças brincavam, e a alegria daquele momento encheu seu coração. Ela havia entendido. E pela primeira vez depois de muito tempo, ela sorriu. Um sorriso verdadeiro e sincero.