Um Oásis de Ilusão
Triste é o caminho do incauto andarilho. Após vagar por
insondáveis planícies alcançou novamente um belo jardim. Flores de cores vivas
enfeitavam o lugar. Um aroma adocicado preenchia todo o lugar. Era um oásis de
cores e aromas que destoava daquela triste e cinzenta planície que ele já havia
se acostumado.
Em seu intimo sentia que não devia ali ficar. No fundo sabia
que o belo é apenas uma ilusão e que logo tudo aquilo se desvaneceria como
todas as ilusões que já o haviam entorpecido.
Mas como resistir? Que coração, por mais endurecido que
esteja pode resistir à tão bela tentação?
Cada dia naquele lugar parecia uma eternidade de sensações,
sentimentos, emoções que o preenchiam, fazendo por um breve instante se
esquecer de toda sua dor, de todas as trevas que ainda persistiam enraizadas. Entorpeceu-se
até que a razão deu lugar a emoção, e o que era uma pequena pausa em sua eterna
caminhada, foi se estendendo.
Mesmo quando as lembranças mais tristes voltaram, mesmo
quando as trevas ameaçaram ressurgir, ainda assim, se deixou envolver pelos
sabores, aromas e cores do oásis de ilusão em meio a planície árida e cinzenta.
Mas houve um momento de sobriedade, onde o medo o despertou
e por muito pouco não deixou aquele lugar. Mas uma melodia doce e calma o
envolveu. Como as sereias com seu terrível encantamento, para seu torpor retornou,
para a ilusão se entregou.
Quando não havia mais dúvidas e medos, ele se entregou. Entregou-se
de corpo e alma ao oásis de ilusão. De corpo e alma se perdeu entre as cores
ilusórias de uma vida que não era sua. E que alma poderia entregar se ela mesma
já não lhe pertencia?
Sem alma, e com coração em pedaços em um oásis de beleza, o
tolo se entregou aos prazeres que não lhe pertenciam. Assim, quando mais nada
havia para entregar, o preço foi cobrado. Que interesse haveria para aquele
oásis em um caído sem luz própria que perdera sua própria beleza?
Assim as cores se foram. Os aromas se foram. Os sabores se
foram. A melodia permaneceu. Uma torturante lembrança do paraíso que experimentara
e perdera novamente.
A planície cinzenta agora se estendia por todos os lados.
Novamente sozinho. Novamente trilhando o caminho buscando algo que jamais
poderá alcançar.
Este é o caminho do tolo que um dia aceitou um pacto tão
vil, trocando sua alma pelo poder, abandonando o amor e escolhendo sofrer.
As trevas ressurgem a cada segundo...
Pouco resta do anjo que ousou se rebelar contra seu terrível
infortúnio...
Um eterno regresso ao nada...