quarta-feira, dezembro 21, 2016

Um Oásis de Ilusão


Triste é o caminho do incauto andarilho. Após vagar por insondáveis planícies alcançou novamente um belo jardim. Flores de cores vivas enfeitavam o lugar. Um aroma adocicado preenchia todo o lugar. Era um oásis de cores e aromas que destoava daquela triste e cinzenta planície que ele já havia se acostumado.

Em seu intimo sentia que não devia ali ficar. No fundo sabia que o belo é apenas uma ilusão e que logo tudo aquilo se desvaneceria como todas as ilusões que já o haviam entorpecido.

Mas como resistir? Que coração, por mais endurecido que esteja pode resistir à tão bela tentação?

Cada dia naquele lugar parecia uma eternidade de sensações, sentimentos, emoções que o preenchiam, fazendo por um breve instante se esquecer de toda sua dor, de todas as trevas que ainda persistiam enraizadas. Entorpeceu-se até que a razão deu lugar a emoção, e o que era uma pequena pausa em sua eterna caminhada, foi se estendendo.

Mesmo quando as lembranças mais tristes voltaram, mesmo quando as trevas ameaçaram ressurgir, ainda assim, se deixou envolver pelos sabores, aromas e cores do oásis de ilusão em meio a planície árida e cinzenta.

Mas houve um momento de sobriedade, onde o medo o despertou e por muito pouco não deixou aquele lugar. Mas uma melodia doce e calma o envolveu. Como as sereias com seu terrível encantamento, para seu torpor retornou, para a ilusão se entregou.

Quando não havia mais dúvidas e medos, ele se entregou. Entregou-se de corpo e alma ao oásis de ilusão. De corpo e alma se perdeu entre as cores ilusórias de uma vida que não era sua. E que alma poderia entregar se ela mesma já não lhe pertencia?

Sem alma, e com coração em pedaços em um oásis de beleza, o tolo se entregou aos prazeres que não lhe pertenciam. Assim, quando mais nada havia para entregar, o preço foi cobrado. Que interesse haveria para aquele oásis em um caído sem luz própria que perdera sua própria beleza?

Assim as cores se foram. Os aromas se foram. Os sabores se foram. A melodia permaneceu. Uma torturante lembrança do paraíso que experimentara e perdera novamente.

A planície cinzenta agora se estendia por todos os lados. Novamente sozinho. Novamente trilhando o caminho buscando algo que jamais poderá alcançar.

Este é o caminho do tolo que um dia aceitou um pacto tão vil, trocando sua alma pelo poder, abandonando o amor e escolhendo sofrer.

As trevas ressurgem a cada segundo...

Pouco resta do anjo que ousou se rebelar contra seu terrível infortúnio...

Um eterno regresso ao nada...