segunda-feira, outubro 24, 2016

O Vazio






Seus olhos contemplam a escuridão à sua frente. Seus passos vacilam. O receio do desconhecido congela sua alma. Não quer prosseguir. Mas ao mesmo tempo não quer retornar. Seu sangue ferve diante das inúmeras possibilidades que se desdobram a sua frente. Seu coração palpita em um ritmo frenético. A escuridão lhe atrai. Ela lhe chama. Um sussurro sedutor e tentador. O suor escorre pelo seu rosto. Precisa daquilo mais do que precisa de sua própria vida. As trevas o envolvem. Está sozinho novamente. Não completamente. Ele a sente ali. Em sua volta. O envolvendo. O confortando. A dor aos poucos desaparece. Também a tristeza. Apenas o vazio permanece. O eterno e imutável vazio. Profundo e melancólico vazio. Sua alma se encontra naquele vazio e se satisfaz vorazmente como um sedento em pleno deserto ao encontrar água. Logo não existe mais nada. Apenas as trevas. Apenas o silêncio. Apenas o vazio...
Outra vez a armadilha. O silêncio é rompido. Uma gargalhada se espalha e o vazio já não está mais vazio. O perfume novamente faz presente. E os olhos... Aqueles profundos olhos como o mar. Tenta correr. Suas pernas não respondem. Tenta gritar. A voz lhe falta na garganta. Está indefeso...
- Pequeno tolo – a voz se espalha por toda a escuridão a sua volta. – Não pode se esconder ou fugir para sempre. Seu destino está selado.
Sua respiração agora está ofegante. Seu peito dói. Sua cabeça gira. Não consegue acreditar que novamente estava ali. Seu algoz o espera como antes e sorri. Naquele momento entre trevas e dor, pensa se talvez seja a hora de desistir, de se entregar. Já perdera suas asas. Já perdera sua luz. De que adianta continuar vagando em um mundo que jamais o aceitará?
Ele então se entrega. Não mais o fim. Não mais o começo. Não mais o crepúsculo. Não mais a aurora. Apenas o vazio. Apenas a escuridão.