O Vazio
Seus olhos contemplam a escuridão à sua frente. Seus passos
vacilam. O receio do desconhecido congela sua alma. Não quer prosseguir. Mas ao
mesmo tempo não quer retornar. Seu sangue ferve diante das inúmeras
possibilidades que se desdobram a sua frente. Seu coração palpita em um ritmo
frenético. A escuridão lhe atrai. Ela lhe chama. Um sussurro sedutor e
tentador. O suor escorre pelo seu rosto. Precisa daquilo mais do que precisa de
sua própria vida. As trevas o envolvem. Está sozinho novamente. Não
completamente. Ele a sente ali. Em sua volta. O envolvendo. O confortando. A
dor aos poucos desaparece. Também a tristeza. Apenas o vazio permanece. O
eterno e imutável vazio. Profundo e melancólico vazio. Sua alma se encontra
naquele vazio e se satisfaz vorazmente como um sedento em pleno deserto ao
encontrar água. Logo não existe mais nada. Apenas as trevas. Apenas o silêncio.
Apenas o vazio...
Outra vez a armadilha. O silêncio é rompido. Uma gargalhada
se espalha e o vazio já não está mais vazio. O perfume novamente faz presente.
E os olhos... Aqueles profundos olhos como o mar. Tenta correr. Suas pernas não
respondem. Tenta gritar. A voz lhe falta na garganta. Está indefeso...
- Pequeno tolo – a voz se espalha por toda a escuridão a sua
volta. – Não pode se esconder ou fugir para sempre. Seu destino está selado.
Sua respiração agora está ofegante. Seu peito dói. Sua
cabeça gira. Não consegue acreditar que novamente estava ali. Seu algoz o
espera como antes e sorri. Naquele momento entre trevas e dor, pensa se talvez
seja a hora de desistir, de se entregar. Já perdera suas asas. Já perdera sua
luz. De que adianta continuar vagando em um mundo que jamais o aceitará?
Ele então se entrega. Não mais o fim. Não mais o começo. Não
mais o crepúsculo. Não mais a aurora. Apenas o vazio. Apenas a escuridão.