segunda-feira, setembro 27, 2010

Caído...



Por um breve instante a luz se apagou. Por um instante todo o calor se foi. Como quem acorda de um belo sonho ele abre os olhos. Lá estava a realidade novamente. Dura e fria como fora outrora. Lá estava a tristeza de dias nublados retornando com toda a força vinda de um passado que achava enterrado. A esperança pouco a pouco se retirou. Nem mesmo perguntou se poderia ir. Mas antes que ele percebesse, ela se foi. Deixando para trás um vazio que não podia ser preenchido. Faltou-lhe o chão. Naquele momento, de queda eminente tentou agarrar-se no que parecia mais sólido diante de si. Com tanta força suas mãos agarraram aquele galho que era sua última esperança, que o galho não pode suportar e arrebentou. Novamente em queda...
Nem luz, nem sol. Nem deuses, nem homens. Nada poderia impedir aquela queda, pois faltava-lhe o principal.
A esperança se foi tão rápida quanto chegou. Sozinho ele cai. Mas não se importa mais. Perdeu ali naquele momento sua última gota de esperança. Nada mais havia para perder. Nada mais havia para sentir, a não ser o nada que o preenchia. Vazia era a alma. Vazio era o coração. Vazio eram os olhos. Vazio.
Abismo frio e ao mesmo tempo acolhedor. Sua tristeza não tem fim. Mesmo os sorrisos já não podem afastar a tristeza. Nada pode afastar a tristeza. Sempre esteve ali. E sempre estará. Qualquer impressão diferente disso será apenas ilusão preenchendo um tolo coração...
Desespero...

Uma vida vazia
Um coração tão perdido
Uma alegria perdida
Um sonho esquecido

Um belo sorriso
Que se converteu
Em olhares amargos
Que o coração envolveu

Com um espinho encravado
Uma alma perdeu
Sua esperança sonhada
E seu sonho morreu

Um belo momento
Que se eternizou
Serão apenas lembranças
De um alguém que acordou

Nem sonho, nem vida
Nem futuro ou passado
Apenas o vazio
De um destino marcado

Lágrimas...
Secaram...
Esperanças...
Perdidas...
Paz...

O tolo caminha sem um caminho a seguir. Perdeu-se diante da imensidão do vazio.

sexta-feira, setembro 10, 2010

Raio de Sol...

Os olhos se abrem lentamente. As trevas se foram como que por encanto. O primeiro raio de sol o desperta por completo. Olha à sua volta. O abismo já não lhe parece penoso. Sua alma parece mais leve agora. Dentro de si, se pergunta como poderia o sol alcançar o profundo abismo onde seus sonhos estão enterrados. Fecha os olhos, insiste para si que é apenas uma ilusão, que não é possível que aquele astro tão brilhante pudesse ter chegado tão longe. Afinal isto nunca acontecera antes. As trevas sempre estiveram ali, ou ele sempre estivera nas trevas. Já não sabe mais. Tanto tempo se passou desde que caíra a primeira vez, que já nem se lembra mais como era não estar caído. Por um instante, teme abrir os olhos. Teme descobrir que não se passara de mais uma ilusão. Teme não sentir mais aquele radiante astro iluminando seu atormentado coração. Mas por fim, a coragem vence dentro de si. Abre os olhos. A primeira lágrima escorre quase que involuntariamente. Ali estava o sol. A luz agora brilhava mais forte. E podia sentir seu calor invadindo os recônditos de seu ser. Um calor reconfortante. Ele sorri. Sorri de dentro para fora. Sua prece fora ouvida. Agora tem certeza. A queda teve um propósito. Pois só na queda se aprende a levantar. O acalento que sente em seu coração o impulsiona. Era preciso deixar o abismo. Não nascera nele, e agora mais do que nunca sentia que as trevas ali o rejeitavam.

“Desista”

A palavra ecoava pelas negras paredes que o envolviam.

“Cairá de novo”

As palavras repetiam-se com mais intensidade, quanto mais se afastava do fundo do abismo.

“O mundo lá em cima é apenas uma ilusão, a realidade são as trevas que aqui estão”

Mas era tarde demais. Aquilo que o despertara era mais forte do que qualquer medo ou receio que antes envenenava seu coração. Ele só queria deixar o abismo e poder depois de tanto tempo sentir aquele calor banhar sua face e inundar seu coração.

Nem anjo, nem demônio. Apenas o homem prevaleceu.

Não mais o fim. Mas um eterno recomeço...

quarta-feira, setembro 08, 2010

Um Blues...


Um blues eu faço pra tocar
No azul desse seu olhar
Eu sei que posso me afogar
No azul que mora nesse mar

Um blues que é a cara do luar
Azul que cega o meu olhar
Na hora de te abraçar
Eu sinto a fúria desse mar

Sua cabeça é dificil entender
Estranha é a forma do seu proceder
Quando eu te quero não consigo ter
Quando não quero não me deixa esquecer

Cada viagem que faço é um calor
Cada minuto de céu é pra ter
Um gosto melado do seu suor
Salgado pedaço de um amanhecer

Um blues eu faço pra tocar
No azul desse seu olhar
Eu sei que posso me afogar
No azul que mora nesse mar...

(Bruna Caram)