sexta-feira, novembro 23, 2007

Condenação - Parte 3


Sua mente já estava despedaçada. Seu coração estava moído. O peso do castigo era maior do que ele podia carregar. Christopher nunca tinha imaginado que sua dor seria tão grande. Mas ele estava obstinado. Todo aquele sofrimento não significava nada perto do maior sentimento que existe. Ele havia encontrado o amor. E o que é a dor e o sofrimento diante do amor verdadeiro? A dor é nada. O sofrimento é passageiro. Pelo menos assim ele pensava. E foi assim até aquele momento.
Christopher desperta. Levanta-se lentamente. Olha para os lados. Não está mais na Cidadela de Prata. Algo estava errado. Ou seu tormento havia acabado, ou este era início de seu próximo castigo.
Christopher tocou levemente sua face. Aparentemente seu rosto estava normal. Pelo menos no seu nível de percepção. Logo à frente havia algumas casas. Com certa dificuldade caminhou até elas. Neste momento Christopher percebeu algo que não sentia há muito tempo. O calor do sol tocando levemente suas costas. Ele estava novamente no mundo dos homens. Havia deixado o inferno.
“Será que foi tudo um sonho?” – perguntou a si mesmo. “Será que eu nunca estive no inferno?”
Mas alguma coisa estava errada. Ele podia sentir no ar algo de estranho. Mórbido. Gritos vinham de dentro da casa mais próxima. Eram gritos desesperados. Sem que percebesse, Christopher já estava na porta da casa e antes mesmo que se desse conta, forçou a maçaneta e entrou. Lá dentro uma mulher gritava em agonia. Estava jogada no chão. E tentava com dificuldade se levantar.
- Minha senhora, o que está acontecendo? – Christopher correu na direção da mulher e segurou sua mão. – Deixe-me ajudá-la.
A mulher olhou fixamente em seus olhos. Havia algo naqueles olhos. Uma escuridão profunda, envolvente. Dentro de sua mente, Christopher ouviu uma voz metálica: “Filho”. Christopher assustou-se e soltou a mão da mulher. Ela caiu ao chão. Pálida. Não respirava mais. O corpo sem vida jazia à sua frente. Christopher estava perplexo. Não entendia o que estava acontecendo. Um estranho som, estridente e repetitivo veio de fora da casa. Pessoas entraram abruptamente. Gritos se espalhavam pelo recinto. Alguém segurou o braço de Christopher. Ele foi arrastado para fora. Algumas pessoas gritavam a palavra “assassino”. Ele não entendia nada o que estava acontecendo e pouco a pouco foi perdendo a consciência.
Pouco a pouco sua consciência foi retornando. Olhou em volta. Viu grades para todos os lados. Havia alguns homens olhando para ele. Vestiam estranhas roupas. Seu corpo doía. Lembrava vagamente da mulher que morreu na sua frente.
- A bela adormecida acordou – disse alguém muito próximo.
Christopher tentou se levantar. Os braços doíam. Ele fez um grande esforço e conseguiu colocar-se de pé, apoiado na parede.
- Ei você – um homem baixo, com barba mal feita se aproximou. – Por que está aqui?
Christopher levou a mão a cabeça e olhou para o homem.
- Que lugar é este? – perguntou.
- Você é surdo? – disse alguém ao lado. – Ele te fez uma pergunta. Responde aí.
Christopher olhou para a pessoa. Era um homem alto. Muito alto, e parecia ser bem forte.
- Eu não sei – disse ainda meio entorpecido. – Eu entrei em uma casa. Encontrei uma mulher morrendo e agora estou aqui.
- Sei – o homem mais baixo aproximou-se e deu um soco na boca do estômago de Christopher.
Christopher caiu no mesmo instante.
- Por que fez isso? – balbuciou. – Eu não lhe fiz nada.
- Este foi por mentir para mim – disse o homem. – Vou perguntar de novo. Por que você está aqui?
A resposta de Christopher foi interrompida. Alguém apareceu do lado de fora da cela.
- Ei, vagabundo – disse olhando para Christopher. – Levante-se, o delegado quer vê-lo.
Christopher tentou se levantar, mas o homem não esperou o resultado de seu esforço. Entrou na cela, pegou pelo braço o arrastou para fora.
Christopher foi levado para uma sala, onde um outro homem, já com idade avançada se encontrava sentado.
- Boa tarde, homem – disse o idoso.- Estou realmente intrigado com sua pessoa. Não consegui nenhuma informação sobre você. De onde veio, quem são seus pais. É como se você não existisse até o momento em que foi preso.
- Então isto aqui é uma espécie de masmorra? – perguntou Christopher.
- Masmorra? – o idoso parecia intrigado. – Ta aí uma expressão que eu nunca ouvi ao se mencionar uma delegacia. Já ouvi xilindró, buraco de porco e até casa de pedra. Mas masmorra e a primeira vez.
- Delegacia? – Christopher estava confuso. Nunca tinha ouvido falar daquela palavra. Ele definitivamente não estava mais em sua terra.
- Vai dizer que nunca esteve em uma delegacia? – perguntou o idoso.
- Para falar a verdade eu desconheço esta palavra – respondeu Christopher.
- Por mais incrível que pareça – disse o idoso. – Você não parece estar mentindo. E olha que eu conheço bem as pessoas. Já lidei com todo tipo de vagabundo. E sei quando estão mentindo. Qual é seu nome, rapaz?
- Eu me chamo Christopher – disse. – E o senhor?
- Pode me chamar de delegado – disse rispidamente o idoso. – De onde você veio?
Christopher lembrou-se dos tormentos e da Cidadela de Prata. Mas refreou sua língua. Não seria prudente dizer algo sobre isso.
- Eu vim da França – respondeu. – E anteriormente da Inglaterra.
O delegado coçou o queixo.
- Where city you was born? – perguntou o delegado.
- Desculpe – disse Christopher confuso. – O que disse?
- J'ai demandé où ville tu né ? – perguntou o delegado, e apertou um botão no aparelho telefônico em sua mesa.
- Continuo sem entender nada – disse Christopher.
- Foi o que pensei – o delegado parecia irritado. – Você diz que veio da França e da Inglaterra, mas não fala nem inglês nem tampouco francês. Você não passa de um tolo.
- Como assim? – Christopher estava perplexo. – Você disse algumas palavras sem sentido. Não usou o idioma de minha terra natal.
- Já chega – disse o delegado. – Passará uma noite na cela e quem sabe assim, sua memória se refresque e me conte alguma coisa que valha a pena.
- Espere – protestou Christopher. – Está cometendo um erro.
- Leve-o daqui – disse o delegado e um guarda pegou Christopher pelo braço e o arrastou novamente para sua cela.
Christopher estava confuso. Tudo ali era estranho para ele. Seria este mais um dos seus tormentos? A resposta só seria dada com o tempo.