segunda-feira, abril 23, 2007

O Início...


A criança segue o caminho lentamente. Parece hipnotizada. À cada passo, mais se distanciava de sua mãe. Esta por sua vez, entretida em sua conversa, nem se deu conta que a criança já não está mais ao seu lado. Tudo acontece rápido demais. A buzina do carro e o som da freada brusca chama a atenção da mãe. Seu grito é instantâneo e sua atitude desesperada. Joga tudo para o alto e corre para onde está o carro. O motorista está parado, parece abalado, perturbado. Caída na rua, está a criança. A mãe joga-se no chão, e pega aquele pequeno corpo em seus braços. O corpo balança agora entre os braços da desesperada mãe. A criança estava morta... Era o fim...

Não... Era o início...

A ambulância vem rapidamente. Logo a polícia também chega. A mãe não queria de forma alguma soltar o corpo de seu amado filho. Seus gritos ecoam entre os prédios de concreto. O policial tenta acalmar a pobre senhora. Mas ela não quer se acalmar. Sua vida estava acabada. Seu único filho estava morto... Ou não... A criança abre os olhos. Encara a mãe desesperada. Com um movimento brusco desvencilha-se dos braços da mãe e põe-se de pé. A mãe está perplexa. Todos à sua volta estão. Alguém ao fundo grita que foi um milagre. A criança encara a mãe, e por um breve momento seus olhos brilham. A mãe sente sua espinha gelar. Um calafrio percorre todo seu corpo. A criança percebe o medo repentino da mãe e sorri. Um sorriso malicioso e carregado de maldade. A mãe ficou paralisada. Não tinha coragem para se mexer. A criança aproximou-se da mãe e segurou sua mão. – Vamos mãe – disse ainda sorrindo. – É hora de ir para a casa. A mãe levantou-se e como um zumbi deixou aquele lugar e caminhou de volta para a sua casa.

Dois dias após o acidente, a mãe é encontrada enforcada no seu quarto. Nenhuma carta de despedida. Apenas um bilhete. Nele estava escrita a palavra socorro. A criança, seu filho, que milagrosamente sobreviveu ao atropelamento, havia desaparecido. Não havia sinal de arrombamento na casa, e nada fora roubado. A polícia arquivou o caso, como sendo mais um suicídio entre tantos naqueles dias.
O ser humano em sua busca pela racionalidade acaba ignorando as pistas que aparecem diante de seus olhos. Se a polícia tivesse dado um pouco mais de atenção à esse caso, muita coisa teria sido evitada. Teriam percebido que o mesmo caso acontecera em diversas partes do país e que mais de cem crianças já haviam desaparecido. Teriam se precavido, ou pelo menos teriam tido tempo de fugir. Mas não fizeram nada disso. Fecharam seus olhos e ignoraram os fatos que estavam diante deles. E quando menos esperavam, aconteceu... Era o início...

Não... Era o fim...

Os habitantes daquela cidade nem se deram conta do que aconteceu. O ataque foi rápido, preciso. Contra aquele exército negro, as armas dos homens não tinham efeito algum. As garras despedaçavam os que tentavam se opor à sua marcha. Não demorou muito para o sangue lavar as ruas das cidades e os corpos empilhados já chegavam aos milhares. Os poucos que sobreviveram ao primeiro dia do ataque fugiram para os campos, tentando alertar à todos sobre o que havia acontecido. No início ninguém acreditou nas palavras dos sobreviventes, mas devido à insistência deles, conseguiram recrutar um grupo grande de pessoas para tentar lutar contra aquele mal indizível que havia assassinado milhares de pessoas na cidade. Mas ao chegarem na cidade, nada de errado encontraram. Não havia nenhuma criatura demoníaca. Não havia corpos, e nem tampouco sangue espalhado nas ruas. Não havia caos. Não havia destruição. Tudo estava perfeitamente normal. Normal até demais. Os ditos sobreviventes foram chamados de loucos. Todos voltaram para seus afazeres rindo daquela situação vergonhosa. Mas se eles tivessem parado por um momento, teriam reparado nos olhos das pessoas que estavam na cidade. Olhos negros e vermelhos, carregados de malícia e maldade.

Era o início do fim... A raça humana estava condenada.

sexta-feira, abril 13, 2007

Silêncio


Um minuto de silêncio...

para todas as emoções não sentidas...
para todos os sonhos mal sonhados...
para todos os amores despedaçados...
para todas as pessoas amarguradas...
para todos os que buscam um caminho...
para todos os que se encontram perdidos...
para uma vida desperdiçada...

Um minuto de silêncio...

terça-feira, abril 10, 2007

Condenação - Parte 1


- Acorde, meu filho – a voz ribombava como trovões em seus ouvidos. – Esta na hora de sua recompensa.
Christopher foi se recobrando pouco a pouco. Suas lembranças ainda estavam nubladas. Não se lembrava o que acontecera e nem onde estava. Lentamente abriu seus olhos.
- Tolo mortal – a voz sem dono ressoava por toda parte. – Te concedi o poder digno dos deuses e você o desprezou por causa de uma simples mulher.
Aquelas palavras eram duras e lhe causavam um certo desconforto, mas ele ainda não se lembrava do que se tratava aquilo. Tentou levantar-se. Não conseguiu. Seu corpo estava pesado.
- Aqui você sofrerá pela sua desobediência, criança – disse a voz. – E quando chegar a hora você voltará para fazer aquilo a qual foi destinado. Prepare-se Christopher, pois sofrerá toda sorte de castigos. E isso endurecerá seu coração e você jamais se desviará de seu caminho novamente.
O silêncio. Um silêncio mórbido. Nocivo. Algo naquele lugar era terrível e opressor. Christopher ficou ali, naquele lugar, por dias, meses, anos. Havia perdido a conta. Sua consciência ainda estava nublada. Mas pouco a pouco ele foi se lembrando. Lembrou-se daquele sorriso, daquela voz. Lembrou-se dos brilhantes olhos. Mas ele se perguntava o tempo todo quem era aquela que assombrava seus pensamentos. Pois apesar dos rápidos flashes de lembranças, ele ainda não se lembrava da vida terrena que tivera.
E quando ele achava que seu único tormento seria ficar abandonado naquele lugar esquecido pelos deuses, alguém apareceu.
Coberto com um manto e capuz, tocou levemente o braço de Christopher e este no mesmo momento recobrou suas forças e levantou-se.
- Quem é você? – perguntou Christopher. – Por que me ajudou?
- Tudo será revelado em seu devido tempo – disse a pessoa encapuzada. – Eu o levarei para outro lugar agora, e talvez você mude de idéia quanto ao fato de eu estar lhe ajudando.
- Para onde irá me levar? – perguntou Christopher.
- Me acompanhe e suas dúvidas serão sanadas – disse a pessoa encapuzada e seguiu para dentro da escuridão profunda.
Sem nenhuma vontade de continuar naquele mórbido lugar, Christopher seguir o encapuzado rumo à escuridão.
As trevas tomavam aquele lugar e Christopher não enxergava nada, apenas mais a frente o homem que o havia libertado. Caminharam algum tempo e chegaram em uma planície extensa. Parecia ser feita de areia vermelha e algumas pedras pontiagudas despontavam da areia apontando para o céu, vermelho.
Ao fundo um imenso vulcão cuspia lava e fumaça para todos os lados.
- Que lugar é esse? – perguntou Christopher.
- Esta é a planície vermelha – respondeu o encapuzado. – Lar dos predadores dos sonhos.
- Predadores dos sonhos? – Christopher estava intrigado.
- Fique olhando – disse o encapuzado.
De repente, do meio da areia vermelha, algo saiu. Seu pelo era negro. Possuía longas pernas e braços. E parecia encurvado. Sua face era terrível. Possuía um focinho como de um cachorro. Só que suas grandes presas saltavam para fora de forma irregular.Seus olhos eram amarelos. E sua respiração era ruidosa. Aos poucos outras criaturas foram saindo do meio da areia e logo havia cerca de vinte criaturas, ruidosas e terríveis.
- O que elas vão fazer? – perguntou Christopher.
- Se alimentar – respondeu o encapuzado.
Ao longe uma pessoa começou a se tornar visível. Trazia em seu colo uma criança. Aos poucos a silhueta foi tornando-se mais nítida. Era uma jovem garota.
As criaturas levantaram seus focinhos, farejando o ar. Haviam sentido o cheiro da garota. Formaram um semi-círculo e correram na direção dela.
Os gritos ecoavam pela árida planície. Christopher viu quando os braços da garota foram arrancados. Depois suas pernas. Seu tronco foi rasgado ao meio. E pouco à pouco ela foi sendo devorada pelas criaturas. E pelos gritos da garota, ele manteve-se consciente o tempo todo.
Christopher estava enojado com aquela cena.
- Por que você não faz nada para impedir isso? – perguntou Christopher e as lágrimas escorriam involuntariamente de seus olhos.
- Esse é o castigo dela – disse o encapuzado. – E assim ela sofrerá por muito tempo.
- Por que me fez ver isso? – Christopher estava visivelmente abalado.
- Por que seu próximo tormento será neste lugar – respondeu o encapuzado. – Condenado será a presenciar esta cena que aqui viu e nada poderá fazer para impedir e aliviar o seu sofrimento.
As correntes saíram instantaneamente do meio da areia e fixaram-se nos pulsos de Christopher. Ele estava preso de novo.
- Me solte – gritou Christopher. – O que eu fiz para merecer isso?
- Você não se lembra agora – respondeu o encapuzado. – Mas com o tempo se lembrará. Agora, divirta-se com os predadores dos sonhos.
Christopher estava desesperado. Olhava para os lados, mas não havia nada nem ninguém que pudesse ajudá-lo naquele momento. Então ele viu. A garota aproximando-se novamente, os predadores farejando e em seguida devorando a pobre jovem. E a cena se repetia, seguidamente, por incontáveis anos, ele ficou ali imóvel, sendo obrigado a assistir a tudo impassível.
Este era seu segundo tormento. Mas muitos outros ainda haveriam de vir. Assim havia prometido o seu pai.

segunda-feira, abril 02, 2007

Desilusões ou A Verdade se Abre Aos Olhos Daquele Que Não Queria Ver

Por que eu me espanto?
Se tudo por mim já era esperado?
Por que confio nas pessoas?
Se podres e corruptas todas são?

A vida não me dá um alento
O mundo não dá esperança
Os sonhos não me dão o descanso
A morte me foge a todo instante

Devo fazer o que devo fazer
Devo escolher a vida que me é digna viver
Devo esquecer a beleza que criei
Na ilusão de que feliz um dia poderia ser

Ao inferno com a pureza da alma
Quero lascívia e depravação
Já chega de manter a calma
Os prazeres da carne meu norte serão

Descer ao inferno para buscar seu amor
Nunca ouvi bobagem tão grande
Subir aos céus pra livrar-se da dor
É a estupidez de um louco ignorante

Assim será meu caminho
Retorno do nada ao obscuro sentir
Felicidade inútil de crianças tolas
Amor e respeito não vão mais existir

Ninguém viu quando a fria lâmina atravessou seu pulsante coração
Ninguém chorou quando seu corpo caiu ao chão
Ninguém lembrou de suas palavras de consolo
Ninguém parou para estender-lhe a mão

Ninguém sofreu pelos seus sonhos perdidos
Ninguém sentiu falta de seu sorriso
Ninguém se importou com o seu sofrimento
Ninguém o procurou quando estava perdido...

Um brinde aos loucos, pois eles já se libertaram desse maldito mundo....