Justiça

Ele olha para o instrumento em suas mãos. Antes daquele fatídico dia, jamais havia chegado perto de uma arma. Só a idéia de ver uma arma o deixava em pânico. Ana sempre debochava de seu pavor. Ana... As lágrimas corriam de seus olhos sempre que se lembrava de seu sorriso. Ana era uma boa garota. Tinha um futuro promissor. Seus pais sempre diziam com orgulho que a pequena Ana iria longe... Eles estavam enganados... Lentamente ele engatilha a arma e fica a espreita. Demorou meses para que ele descobrisse o paradeiro dos dois assassinos. E agora eles estavam ali, quase ao alcance de seu revólver, e ele se pergunta se será capaz de atirar. Ele fecha seus olhos, novamente a lembrança de Ana volta à sua mente. Mas dessa vez não de seu sorriso que ele lembra. O corpo da jovem balançando sem vida. A traquéia esmagada, o pescoço quebrado. Ele foi o primeiro a encontrá-la nesse estado. Ele tentou fazer algo, mas já era tarde demais. Ele depositou o corpo imóvel diante de si, e abraçou com força o corpo daquela que era a pessoa mais importante de sua vida. Ana estava morta... Enforcada...
O riso sarcástico o traz de volta de seus devaneios. Os dois estão ali, rindo, debochando, procurando por novas vítimas inocentes, como ele fora um dia, ele e Ana...
Não podia esperar mais, logo os dois estariam fora do alcance de sua arma. Era hora de saber se teria coragem suficiente para fazer o que era preciso. Lentamente ele saiu de seu esconderijo. Apontou a arma na direção do primeiro. O tiro saiu antes mesmo que ele se desse conta do que tinha feito. A bala atravessou as costas do primeiro, rasgou seu pulmão e saiu do outro lado, indo perder-se na noite. O primeiro caiu...
O segundo viu seu companheiro caindo, e virou-se instantaneamente.
Os olhares se encontraram. Criminoso e vítima. Mas dessa vez, os lados se inverteram. A vítima havia se tornado o criminoso, e o criminoso havia se transformado na vítima...
Ele queria dizer muitas coisas naquele momento, mas escolheu o silêncio. Caminhou na direção do homem que implorava pela vida, que chorava, dizia que era inocente...
Mas ele lembrava bem daquele rosto... Teve inúmeros pesadelos com aquele maldito rosto, que não tinha nada de inocente. Aquele mesmo homem que chorava ali diante dele, há meses atrás sorria, um sorriso malicioso e perverso.
Ele encostou o metal frio no rosto do homem.
- Não posso fazer você sofrer como me fez sofrer um dia – disse o jovem, enquanto as lágrimas escorriam de seus olhos. – Mas vou garantir que você nunca mais fará outra pessoa sofrer, como fez com a minha pequena Ana – e disparou. O projétil entrou pela maçã do rosto, cruzou o crânio e por fim rasgou a massa encefálica do homem. Seu corpo caiu quase que no mesmo instante, sem vida.
O jovem olhou para os dois ali jogados, seus corpos inertes. As lágrimas já não podiam ser contidas. Ele caiu de joelhos.
- Ana – o jovem gritou e encostou a arma contra o seu próprio queixo, disparando-a em seguida.
Seu corpo caiu ao lado dos dois que acabara de assassinar, mas ele continuava ajoelhado, olhando aquela cena.
- Estou morto? – pensou.
- Sim – uma jovem aproximou-se dele e tocou seu ombro.
No mesmo instante ele reconheceu aquela doce voz, e virou-se.
- Ana, é você? – perguntou.
- Sim – a jovem segurou as mãos do rapaz e o levantou. – Venha, está na hora de você descansar.
O jovem levantou-se e a seguiu na direção de uma intensa luz logo à frente. Eles estavam juntos de novo.
***
“Se na vida real a justiça não existe, povoemos a ficção com ela. E quem sabe, assim como o submarino de Julio Verne que um dia deixou a ficção para se tornar realidade, a justiça um dia deixe nossos livros, e se torne algo presente e real em nosso mundo”.
___________________________________________________________________
Assalto seguido de Estupro ocorre no Centro-Oeste
Casal de namorados é atacado durante a noite, e tem seus pertences e carro roubado. A jovem foi estuprada na frente do namorado, que impotente foi obrigado à assistir a tudo.
Incapaz de recuperar-se de seu trauma, e sem condições de seguir com sua vida, a jovem enforcou-se dias depois do crime...
___________________________________________________________________