
- Você é a pessoa que eu sempre sonhei? – Christopher perguntou para a jovem parada diante dele. – Tenho esperado tanto tempo. Será que é você?
A jovem olhou para o chão, mas nada disse.
Christopher sorriu.
- Não achava que fosse – suspirou. – Esperava que fosse.
- E por que esperava que eu fosse? – perguntou a jovem ainda olhando para o chão.
- Não importa – respondeu Christopher. – Talvez eu esteja a tanto tempo procurando algo que não existe, que acabo fazendo confusão com as coisas.
- Pode até não importar – disse a jovem. – Mas eu gostaria de saber.
Christopher suspirou profundamente.
- Às vezes eu sonho – disse. – Não é sempre, mas acontece. Sonho com uma pessoa. E essa pessoa me tocaria de uma forma que ninguém antes havia tocado. Seu toque não seria físico. Ela tocaria profundamente em minha alma. E minha alma estremeceria com seu toque. Ela seria capaz de enxergar dentro de meus olhos, e me ver como realmente eu sou. Sua voz, suas palavras me trariam uma paz tão grande, que o mundo perderia todo seu significado. Eu me sentiria arrebatado de meu mundo e seria levado até o Paraíso e ali descansaria. Toda a dor e a tristeza me deixariam quando ao seu lado estivesse.
A jovem continuou olhando para o chão e nada disse.
- Desde a minha tenra idade – continuou Christopher. – Eu sonho com isso. Com a metade de minha alma, que está perdida por aí, mas que em algum momento eu vou encontrar. Durante um tempo eu esperei que ela aparecesse. Quando me cansei de esperar, resolvi procurar. Em minha busca pela metade de minha alma desci ao mais profundo abismo, e ali perdi parte da alma que me restava. A partir desse momento me perdi em um mundo escuro e terrível. Fui seduzido pelo desejo e me tornei aquilo que eu mais odiava.
A jovem o encarou agora. Em seus olhos havia uma profunda tristeza. Mas ela continuou calada.
- É engraçado como as coisas acontecem – disse Christopher. – Eu buscava o amor verdadeiro, puro e imortal, e acabei me entregando ao amor mundano, fútil e passageiro. Em cada rosto eu tentava encontrar minha metade, e mesmo sem encontrar, me entregava à aquele amor fútil. Mas o amor ia embora tão rápido quando chegara, e me fazia muito mais mal do que bem. Mas eu estava perdido, e já não ligava mais.
- Era assim que você buscava o amor verdadeiro? – perguntou a jovem. – Entregando-se a toda mulher que atravessava seu caminho?
Christopher suspirou.
- Eu fui fraco – disse. – Não achava certo fazer isso. Mas com o tempo meu coração foi ficando cada vez mais frio e indiferente. E logo nada mais importava. Perdi as esperanças de encontrar a metade de minha alma. E a esperança perdida, talvez seja a maior dor que eu já senti.
- E então você desistiu de sua busca? – perguntou a jovem.
- Sim – respondeu tristemente Christopher. – Cada vez que me entregava ao mundano amor, ficava mais longe do verdadeiro significado da minha busca. E chegou o momento onde eu já não mais acreditava que existisse o amor verdadeiro. Parei de procurar, parei de me entregar, permaneci em um estado letárgico, deixando-me levar pelas situações e pessoas. Até o dia que meus olhos encontraram os seus.
A jovem pareceu envergonhada com aquelas palavras, e forçou um sorriso.
- Parecia que o mundo a minha volta havia congelado – disse Christopher. – E você estava lá. Eu lhe disse oi, e você sorriu e respondeu minha saudação e depois foi embora. Aquela cena ficou eternizada em minha mente e em meu coração. E não pude mais esquecê-la.
- Tudo por causa de apenas um sorriso? – perguntou a jovem.
- Não foi só o sorriso – disse Christopher. – Havia algo em seu olhar, algo que me prendeu naquele momento. Algo que invadiu minha alma. Algo que me arrebatou completamente. Mas achei que não a veria mais, e me resignei – Christopher suspirou profundamente.
A jovem voltou seu olhar para o chão e ficou em silêncio.
- Mas você me encontrou – disse Christopher. – Em várias situações e circunstâncias você me encontrou. E a cada encontro, você se mostrava ser uma pessoa fantástica. Você me via como eu realmente sou. Diante de você eu me sentia frágil, indefeso. Nem minhas defesas mais antigas funcionavam. Suas palavras, cada uma delas, foi se alojando em meu coração, até que meu coração já não mais me pertencia, era totalmente seu. Eu tentei fugir, mas não consegui. Cada vez que me chamava eu ia.
- Mas você deve ter sentido isso por outras – disse a jovem, vacilante.
- Senti algo parecido – disse Christopher. – Mas não com essa intensidade. Não me importava se a teria ou não. Apenas queria estar ao seu lado. Ouvir sua voz. Olhar em seus olhos. Eu tenho certeza que não senti isso antes. Era algo além da carne. Quando estava ao seu lado, uma calma me preenchia, e quando estava longe de ti, eu sentia um vazio tão grande que me desesperava.
A jovem calou-se novamente.
- E por todos esses sinais – suspirou Christopher. – Eu realmente acreditei que você fosse a pessoa pelo qual eu sempre esperei.
- Eu... – disse a jovem. – Eu não sei o que dizer.
- Não precisa dizer nada – disse Christopher. – O erro foi todo meu por acreditar em algo que não era verdade. Mas não se preocupe, pois nossos caminhos separam-se agora. Eu continuarei meu caminho, procurando este amor puro e incondicional que por um breve instante senti estando ao seu lado. Adeus, minha querida, e obrigado pelo mundo de sonhos que por pouco me fez acreditar.
E Christopher virou-se e seguiu caminhando até desaparecer ao longe no caminho. E a jovem ficou ali parada olhando tristemente, enquanto ele desaparecia diante dela.